O objeto desse projeto de pesquisa são percepções de ativistas de coletivos sobre a relação entre público e privado no seu engajamento político. O objetivo principal é investigar o impacto do uso de novas tecnologias digitais de comunicação na criação de agendas e repertórios de mobilização política desses atores. A amostra está organizada em um conjunto de 100 coletivos atuantes no Brasil, divididos em cinco áreas de atuação, que foram exploradas em pesquisa anterior: afirmação identitária, artes, educação parental, saúde e ecologia. Serão analisados os usos de websites e redes sociais, além da realização de 10 grupos focais e 100 entrevistas aprofundadas voltadas para a compreensão da forma como a biografia e experiência subjetiva dos atores repercute em seus engajamentos políticos. A hipótese principal que conduz a pesquisa é que os canais digitais de comunicação, em particular as redes sociais, estruturam a formação de um espaço público digital, que, por sua vez, atualiza debates conceituais importantes da sociologia em torno da relação entre público e privado. Se a ideia moderna de espaço público implica na distinção com o universo privado, sua compreensão contemporânea parece indicar para uma fusão entre ambos, especialmente se for levado em consideração as novas formas de ativismo político que se desenvolvem fora dos espaços convencionais da representação. No Brasil, o debate sobre a relação entre público e privado possui tradições canônicas na sociologia política e no pensamento social que demarcam as condições específicas para esse atual realinhamento de conceitos outrora formulados como antípodas. O fato de preservar o critério de área de atuação na definição da amostra permitirá explorar em novas direções os dados colhidos na pesquisa anterior, que apontam para uma atualização de aspectos centrais da cultura política brasileira nesse universo através da distinção entre militância e ativismo político.
Coordenação: Fernando Cardoso Lima Neto